A quarta revolução industrial e o futuro da Odontologia
“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.”
Albert Einstein
Em várias publicações anteriores temos alertado para as rápidas mudanças que estão acontecendo na Ortodontia em função das novas tecnologias e da necessidade de nos adaptarmos para continuarmos a exercer a profissão de forma digna e com qualidade. A especialidade passa por um momento revolucionário em vários sentidos. Nos últimos anos, houve uma mudança profunda originada por uma nova geração de tecnologias com múltiplas possibilidades, as quais vêm sendo desenvolvidas e incorporadas rapidamente à prática clínica, servindo como veículos para mudanças conceituais na profissão.
Questões relacionadas ao processo de tomada de decisão terapêutica, formação de uma nova base de conhecimentos, maior importância para uma prática baseada em evidências científicas e uma abordagem minimamente invasiva, além do entendimento do indivíduo como um todo, fazem parte dessa mudança de paradigmas que acontece na Ortodontia contemporânea, e que são essenciais nesse momento em que estamos começando a presenciar a customização e a automatização das mecânicas ortodônticas. Também temos comentado sobre o conceito da “singularidade tecnológica”, que demonstra a velocidade das mudanças e a repercussão dos avanços tecnológicos na vida das pessoas.
Singularidade Tecnológica (Wikipedia)
Novas tecnologias e novos conceitos em Ortodontia (Odonto Magazine)
Novos conceitos na ortodontia contemporânea (Artigo)
Para a Time Magazine, a Ortodontia é uma profissão fadada ao desaparecimento em função da proliferação de “alinhadores estéticos” confeccionados por meio de sistemas CAD/CAM, podendo tornar a “movimentação ortodôntica” algo banal, reforçando o conceito errôneo de que a prática ortodôntica se traduz simplesmente pelo alinhamento de dentes. Infelizmente vemos esse conceito de “alinhar dentes” sendo aplicado em larga escala no Brasil, onde clínicas low cost se tornaram populares pelos “aparelhos gratuitos”, e que acabaram se transformando em verdadeiras linhas de montagem, realizando tratamentos em massa, utilizando materiais e “mão de obra” baratos e sem qualquer compromisso com um correto processo de diagnóstico e planejamento, trazendo como consequência um grande prejuízo institucional para a especialidade, além de muitas iatrogenias e clientes insatisfeitos.
Resolved: 2009 will NOT be the end of the orthodontic specialty (Artigo – INGLÊS)
Quais as saídas para essa crise? Como enfrentar o distanciamento entre colegas que precisam aprender a trabalhar de forma colaborativa, definindo novos padrões de atendimento e novos valores? Como se manter atualizado e em sintonia com os avanços científicos e conceituais? Essas são perguntas que devem ser respondidas por quem deseja permanecer na profissão, tendo o retorno financeiro e o sucesso profissional e pessoal que sempre sonhou. Não existe caminho fácil, mas certamente ele passa pelo entendimento do mundo em que estamos vivendo e da necessidade de mantermos a mente aberta para as novas ideias que estão revolucionando não somente a Odontologia, mas toda a humanidade. O tema do Fórum Econômico Mundial que acontece em Davos na Suíça, entre os dias 19 e 23 de janeiro, é a “Quarta Revolução Industrial”, que contempla muitas das nossas ideias e publicações e serve como parâmetro para o que esperar do futuro, como veremos a seguir.
The Fourth Industrial Revolution: what it means, how to respond (SITE)
Estamos à beira de uma revolução tecnológica que irá alterar fundamentalmente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em escala, escopo e complexidade, a transformação será diferente de tudo que a humanidade já experimentou antes. Nós não sabemos ainda como isso vai se desdobrar, mas uma coisa é clara: a resposta a essa revolução deve ser integrada e abrangente, envolvendo as lideranças políticas, a administração pública, o setor privado e o mundo acadêmico.
A primeira revolução industrial usava o poder da água e do vapor para a produção mecanizada. Na segunda revolução, a energia elétrica foi utilizada para criar a produção em massa. A eletrônica e a tecnologia da informação foram utilizadas na terceira para automatizar a produção. Agora, uma quarta revolução está sendo construída sobre a terceira, a revolução digital que vem ocorrendo desde meados do século passado. Ela é caracterizada por uma fusão de tecnologias que esta interpolando as linhas entre as esferas física, digital e biológica.
Navegando na próxima revolução industrial
As três razões pelas quais as transformações de hoje não representam apenas um prolongamento da terceira revolução industrial, mas sim a chegada de uma quarta que se distingue das demais são, a velocidade, o alcance e o impacto. Aliás, a velocidade dos avanços atuais não tem precedentes históricos. Com a possibilidade de bilhões de pessoas estarem conectadas por meio de smartphones com poder de processamento sem precedentes, a capacidade de armazenamento e acesso ao conhecimento serão ilimitados. E estas possibilidades serão multiplicadas por avanços tecnológicos emergentes como a inteligência artificial, a robótica, a “internet das coisas”, os veículos autônomos, a impressão 3-D, a nanotecnologia, a biotecnologia, a ciência dos materiais, o armazenamento de energia e a computação quântica.
Como as revoluções que a precedeu, a quarta revolução industrial tem o potencial de aumentar os níveis globais de renda e melhorar a qualidade de vida das populações em todo o mundo. A tecnologia tornou possíveis novos produtos e serviços que aumentam a nossa eficiência e o prazer de nossas vidas. Quando pedimos um táxi, reservamos um voo, compramos um produto, fazemos um pagamento, ouvimos música, assistimos a um filme ou jogamos um jogo de qualquer, fazemos isso hoje de forma remota com muito mais eficiência. Mais de 30% da população global usa plataformas de mídia social para se conectar, aprender e compartilhar informações e essas interações são uma ótima oportunidade para uma coesão intercultural.
As inovações tecnológicas levarão a ganhos no longo prazo em termos de eficiência e produtividade. Transporte e comunicação terão seus custos reduzidos, a logística das cadeias globais de fornecimento se tornará mais eficaz e o custo do comércio irá diminuir, o que vai abrir novos mercados e impulsionar o crescimento econômico.
Ao mesmo tempo, economistas têm apontado que essa revolução pode aumentar a desigualdade social, particularmente pela sua capacidade de alterar os mercados de trabalho. A automatização pode substituir muitos trabalhadores por máquinas, agravando o fosso entre a geração de capital e o trabalho. Por outro lado, é muito provável que novos postos de trabalho rentáveis, seguros e gratificantes também sejam criados em função das novas tecnologias. Em outras palavras, no futuro, o talento mais do que o capital vai representar o fator crítico de produção. Isto vai dar origem a um mercado de trabalho cada vez mais segregado em “low-skill/low-pay” e segmentos altamente especializados de alto rendimento financeiro.
Os maiores beneficiários das inovações deverão ser os fornecedores de capital intelectual e físico – os inovadores, acionistas e investidores – o que explica o fosso crescente na desigualdade social. Assim, a tecnologia é uma das principais razões pelas quais os rendimentos estagnaram ou diminuíram para a maioria da população em países de alta renda, pois a demanda por trabalhadores altamente qualificados aumentou, enquanto a demanda por trabalhadores com menor escolaridade e habilidade diminuiu.
Grandes mudanças estão ocorrendo também com respeito aos padrões de comportamento dos consumidores, que tem apresentado mais informação e engajamento pelo fácil acesso a redes sociais, obrigando as empresas e os prestadores de serviço a se adaptarem para fornecer novos produtos e serviços.
Finalmente, a quarta revolução industrial, vai mudar não só o que fazemos, mas quem somos. Vai afetar nossa identidade e todas as questões associadas a ela: nosso senso de privacidade, nossas noções de propriedade, nossos padrões de consumo, o tempo que dedicamos ao trabalho e ao lazer, como desenvolvemos nossas carreiras, cultivamos nossas habilidades, conhecemos as pessoas e nutrimos os nossos relacionamentos. Na área da saúde já é possível ver os benefícios dos avanços tecnológicos e científicos no aumento da expectativa e na qualidade de vida das pessoas, e em breve iremos testemunhar os avanços que irão aumentar a performance e a capacidade física e cognitiva dos seres humanos.
Ao lermos os parágrafos acima, nos damos conta de que muitas coisas irão mudar nos próximos anos e precisamos estar preparados para isso. Além do constante aprimoramento técnico e científico que serão cada vez mais importantes, parte do processo está em desenvolvermos novas habilidades administrativas, de comunicação, línguas, tecnologia da informação, presença digital e networking, de forma a atendermos as demandas do mercado que busca por mais eficiência, conforto e rapidez nos tratamentos, assim como, por uma atenção diferenciada, que passa pela percepção de valor por parte dos clientes e transcende os bons resultados clínicos. Essa “atenção diferenciada” que se traduz em cuidado, cordialidade e respeito ao próximo, ainda não encontra paralelo tecnológico e depende da nossa “humanidade”, do nosso comprometimento e dos nossos valores e princípios.
[1] Cibernética é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas eletrônicas (homeostatos, servomecanismos, etc.).
Matéria veiculada no blog da ENOVA – Clique aqui para acessar